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SERVIÇO DE ANIMAÇÃO BÍBLICA – SAB
“ANUNCIAR O EVANGELHO
E DOAR A PRÓPRIA VIDA” (cf. 1Ts 2,8)
Para que n’Ele nossos
povos tenham vida Primeira Carta aos Tessalonicenses Mês da Bíblia – 2017 Texto
para o povo
INTRODUÇÃO
O Mês da Bíblia iniciou-se no
Brasil em 1971 como um espaço privilegiado para aprofundar um livro ou tema
bíblico. Em 2016 refletimos sobre o livro de Miqueias e em 2017 temos a
oportunidade de estudar e rezar a Primeira Carta do Apóstolo Paulo aos Tessalonicenses.
Conforme os últimos anos, o tema e o lema, à luz do Documento de Aparecida,
foram escolhidos pela Comissão Bíblico-Catequética da Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil (CNBB) e outras instituições bíblicas, dentre elas o Serviço
de Animação Bíblica (SAB/Paulinas). Para este ano o tema é “Para que n’Ele
nossos povos tenham vida – Primeira Carta aos Tessalonicenses” e o lema
“Anunciar o Evangelho e doar a própria vida” (cf. 1Ts 2,8).
QUEM É O AUTOR DA PRIMEIRA CARTA AOS TESSALONICENSES?
É Paulo, servo e apóstolo de
Jesus Cristo (Rm 1,1). Ele se apresenta como hebreu, filho de hebreus, da raça
de Israel, da tribo de Benjamim, circuncidado ao oitavo dia e fariseu (Fl 3,5).
Paulo conhecia muito bem a Torá e defendia profundamente a Lei de Moisés. Ele
perseguiu os cristãos para defender o judaísmo e encontrou-se com Cristo no
caminho de Damasco (Gl 1,11-24). Esse encontro mudou sua vida para sempre,
tornando-se um cristão dentro de um processo revitalizador: foi batizado (At
9,18), retirou-se para a Arábia, sentiu-se chamado por Deus e enviado para
anunciar Jesus Cristo entre as nações (Gl 1,16-17). Como fiel discípulo de
Cristo, adotou o nome latino Paulo1 e evangelizou fora da Palestina. Fundou
várias comunidades e as acompanhou por meio de visitas e cartas.2 A Primeira
Carta aos Tessalonicenses é conhecida como o escrito mais antigo do Novo
Testamento.3 Como cristão, Paulo viveu um processo de cristificação (Gl 2,20)
que o ajudou a enfrentar os sofrimentos cotidianos (2Cor 11,24-28), sendo fiel
até a morte. A morte deste apóstolo, conforme a tradição, aconteceu em Roma,
por volta de 67 E.C.4 Liturgicamente, a Igreja Católica Apostólica Romana
celebra no dia 25 de janeiro a experiência de Paulo com Jesus Cristo e o seu
martírio no dia 29 de junho.
QUANDO FOI ESCRITA?
A Primeira Carta aos Tessalonicenses foi
escrita entre os anos de 50 e 51 E.C., na língua grega popular. Nessa época, a
comunidade ainda não estava organizada e necessitava de incentivo para não
desanimar diante das provações.[1]
ONDE FOI ESCRITA? [2]
Ao longo da sua jornada
missionária, Paulo acompanhou cada comunidade de forma personalizada. Mesmo
distante, ele sempre dava um jeito de exortar, orientar e consolar os cristãos.
Ele escreveu a Primeira Carta aos Tessalonicenses possivelmente em Corinto,
antiga vila grega que se tornou uma grande cidade portuária, situada entre o
mar Egeu (ao leste) e o mar Jônico (a oeste), o que favoreceu a expansão do
Cristianismo. Provavelmente, Paulo chegou a Corinto no inverno de 50 a 51 E.C.
e lá encontrou importantes colaboradores, como o casal Priscila e Áquila (At
18,2). Mais tarde, o apóstolotrabalhou com eles (1Cor 16,19) e fundou uma nova
comunidade cristã.
QUAL ERA SUA PRINCIPAL FINALIDADE?
Os cristãos viviam uma realidade
bastante desafiadora em Tessalônica, cidade fundada em 315 a.E.C. por
Cassandro, Rei da Macedônia, no território situado ao norte da Grécia, na
cabeceira do golfo Termaico. Metrópole portuária bastante desenvolvida,
tornou-se a capital da província romana na Macedônia no ano de 146 E.C.7 Nesse
ambiente cosmopolita,8 Paulo fundou a comunidade cristã por volta de 49 e 50
E.C., durante sua segunda viagem missionária. Em At 17,1-9 aparecem os detalhes
da missão paulina em Tessalônica, na companhia de Silas, e a adesão de alguns
gregos adoradores de Deus e de mulheres da alta sociedade. Portanto, os
cristãos convertidos eram de origem judaica, grega, profissionais itinerantes e
comerciantes vindos da Itália e da Ásia Menor, que sobreviviam num ambiente
politeísta, marcado pela mitologia de outros povos, e também enfrentando
oposições dos judeus.9 Paulo escreveu a Primeira Carta aos Tessalonicenses para
confirmar e exortar a respeito da fé (1Ts 3,2), com o objetivo de os cristãos
conservarem a fé operosa, caridade laboriosa e ter esperança constante no
Senhor (1,3).[3]
ESTRUTURA DA PRIMEIRA CARTA AOS TESSALONICENSES
Existem diversas formas de
estruturar a Primeira Carta aos Tessalonicenses. Resumidamente, podemos
subdividir seus cinco capítulos nas seguintes partes:
·
Primeira parte: cabeçalho, saudação e ação de
graças pela fé, esperança e caridade da comunidade de Tessalônica (1,1-10).
·
Segunda parte: encorajamento diante das
dificuldades específicas da vida cristã (2,1–4,12).
·
Terceira parte: instruções sobre a vinda
gloriosa de Jesus Cristo (parusia) e o destino dos mortos (4,13–5,11). Quarta
parte: exortações e bênção final (5,12-28).
ASPECTOS TEOLÓGICOS
Destacamos os seguintes aspectos
teológicos:
1. Deus
Pai
Na Primeira Carta aos
Tessalonicenses, Deus é denominado Pai (1,1.3; 3,11.13), Deus vivo e verdadeiro
(1,9), fonte de ação de graças (1,2), digno de confiança (2,2) e que perscruta
o coração humano (2,4). Possui um plano de salvação que consiste em tornar as
pessoas imitadoras de sua 10 santidade (3,13; 4,7; 5,23). É o Deus da paz
(5,23) que não nos destinou ao castigo, mas sim à salvação (5,9). Deus Pai
convoca a comunidade para participar do seu Reino (3,11.13) e da sua glória
(2,12), santificando-a com o auxílio do Espírito Santo (4,7-8) que gera a vida
e revitaliza as relações, a partir da fé em Jesus Cristo.
2. Jesus
Cristo
O nome Jesus aparece acompanhado
dos títulos cristológicos: Cristo Jesus (2,14; 5,18), Senhor Jesus (2,15.19;
3,11.13; 4,1), nosso Senhor Jesus Cristo (1,1.3; 5,9.23.28) e Filho (1,10). Ao
levar em conta que é o escrito mais antigo do Novo Testamento, temos aqui o
núcleo central do querigma, ou seja, do primeiro anúncio sobre Jesus, o
Messias, realizado por Paulo e seus colaboradores. Além da centralidade no
Mistério Pascal, Paulo introduz o tema da parusia de Jesus, isto é, da vinda
imediata do Filho de Deus, servindo-se de imagens da apocalíptica e de uma
linguagem simbólica. Porém, não é possível determinar nem dia nem hora, porque
tudo acontecerá no tempo de Deus, que é desprovido do controle humano (5,2).
3. Espírito
Santo
Na Primeira
Carta aos Tessalonicenses, o Espírito Santo é mencionado como revelador da
Palavra (1,5), fonte de alegria para os cristãos (1,6) e dom de Deus (4,8). O
Espírito revela a Palavra como mensagem salvífica e libertadora, gera alegria
nos seguidores de Cristo recém-convertidos, ajudando-os na prática da caridade
e congregando-os em comunidade (5,12-22).
4. Comunidade
cristã
A comunidade
era composta de irmãos amados por Deus e recebeu a Palavra entre aflições.
Seguiu os exemplos de Paulo e imitou o Senhor, tornando-se modelo para os
cristãos da Macedônia e da Acaia (1,4-7). Deixou os ídolos, assumiu o Deus vivo
e verdadeiro (1,9), acolhendo o Evangelho não apenas como instrução humana, mas
como Palavra de Deus (2,13). Esta comunidade era amada por Paulo (2,8), com
amor filial, digna de consolo e encorajamento (2,11-12). Além de imitadora das
igrejas da Judeia, perseguida pelos concidadãos adversários (2,14) e confortada
por Timóteo, que ficou impressionado com seu testemunho de fé e caridade
(3,1-6). A comunidade, chamada eleita por Deus, foi convocada a cultivar a
santidade do corpo, a fraternidade, o bem comum, a viver do próprio trabalho, a
corrigir os indisciplinados, a confortar os desencorajados, a cuidar dos
fracos, a ter paciência com todos, a rezar constantemente, a agradecer por
tudo, a conservar a alegria e o que é bom, afastando-se de toda forma de mal
(4,1-12; 5,12-22).
5. Evangelho
A palavra
“Evangelho” é de origem grega e significa boa-nova. Ela era aplicada à situação
na qual se comunicava uma notícia, que gerava alegria nas pessoas, como a vitó-
ria numa determinada guerra ou o nascimento do herdeiro do trono. O termo em
hebraico que traduz a palavra grega “evangelho”, ou termos afins como
“mensageiro” ou os verbos “evangelizar”, “proclamar”, ocorre também no Livro do
profeta Isaías, quando é anunciada a boa-nova do retorno do 12 povo do exílio
da Babilônia (Is 40,9; 52,7; 61,1-2). Em 1Ts a mensagem cristã é considerada
Evangelho, porque tem como base fundamental a pessoa de Jesus Cristo, a vitória
sobre a morte e a inauguração do Reinado de Deus. Os tessalonicenses receberam
o Evangelho com o poder do Espírito Santo, entre muitas aflições, e o
partilharam não apenas na Macedônia e na Acaia, mas em outros lugares (1,5-8).
É Paulo quem pela primeira vez, na carta aos Tessalonicenses, emprega a palavra
“evangelho”. Mais tarde, os cristãos adotaram este termo para nomear os
primeiros livros do Novo Testamento: Marcos, Mateus, Lucas e João, nos quais
são narrados a vida e os ensinamentos de Jesus Cristo.
6. Fé,
esperança e caridade
Nesta carta,
ocorre pela primeira vez a tríade paulina: fé, esperança e caridade (1,3; 5,8),
que posteriormente serão consideradas “virtudes teologais”. A fé é fundamentada
na experiência de que Jesus Crucificado é o Messias e o Senhor Ressuscitado. Ao
crer que Jesus foi ressuscitado, nós cristãos também temos a esperança de que
ressuscitaremos no tempo escatológico, no momento da parusia. Mas a esperança
de permanecer em comunhão com Deus e com as pessoas no fim dos tempos é
antecipada na construção do Reinado de Deus, na história, por meio da vivência
do amor, da caridade.
NOSSO SUBSÍDIO
Este fascículo tem como objetivo proporcionar
aos grupos de reflexão e círculos bíblicos um encontro pessoal 13 e comunitário
com a Palavra, a partir da Primeira Carta de Paulo aos Tessalonicenses. O
subsídio contém quatro encontros e cada um é precedido por um texto
preparatório sobre o texto bíblico abordado. Ao final, inclui uma celebração de
encerramento que pode ser preparada no grupo ou em comunidade. O primeiro
encontro reflete sobre a identidade cristã, que é revelada a partir da fé, da
esperança e do amor, virtudes que sustentam a vida pessoal e da comunidade (1Ts
1,2-10). O tema da edificação do trabalho como dignidade para a vida (4,9-12) é
abordado no segundo encontro. Nota-se que o apóstolo evidencia a importância do
sustento humano proveniente das próprias mãos, realizado com honestidade,
evitando a ociosidade desnecessária. A vinda do Senhor e a crença na
ressurreição são os temas do terceiro encontro, elementos que revelam a
esperança cristã (4,13–5,11). O quarto encontro retrata a comunidade cristã,
vivida na alegria, em oração e no discernimento (5,12-22). O último encontro é
reservado para a celebração de encerramento, fazendo memória dos quatro
encontros anteriores. Rezaremos 1Ts 2,3-8, texto que iluminou o lema do Mês da
Bíblia deste ano: “Anunciar o Evangelho e doar a própria vida”. Desejamos que
estes encontros sejam realizados na fé operante, caridade laboriosa e esperança
constante no Senhor Jesus Cristo (cf. 1,3). 14
ORIENTAÇÕES PRÁTICAS
Dicas para a
pessoa que conduzirá o encontro:
·
Ler com antecedência o texto preparatório que
precede cada encontro e o texto bíblico indicado.
·
Providenciar os símbolos e decorar o ambiente,
antes de os participantes chegarem ao local do encontro.
·
Caso seja necessário, substituir os cantos
desconhecidos por outros familiares ao grupo, para favorecer a participação de
todos.
·
Se na comunidade houver outros grupos de estudos
bíblicos, preparar em conjunto a celebração de encerramento.
BIBLIOGRAFIA Para
aprofundar o tema, sugerimos:
A BÍBLIA: Novo Testamento. São
Paulo: Paulinas, 2015.
BARBAGLIO, G. As cartas de Paulo,
I. São Paulo: Loyola, 1989. (Bíblica Loyola, 4).
BINGEMER, M. C. L. Jesus Cristo:
servo de Deus e Messias glorioso. Teologia sistemática: Cristologia. São Paulo:
Paulinas; Valencia, Espanha: Siquem, 2008 (Livros Básicos de Teologia, 8).
BORTOLINI, J. Como ler a Primeira
Carta de Paulo aos Tessalonicenses: fé, amor, esperança. São Paulo: Paulus, 2014.
BROWN, R. E. Introdução ao Novo
Testamento. São Paulo: Paulinas, 2004 (Bíblia e História. Maior).
15 FABRIS, R. Paulo: apóstolo dos
gentios. 6. ed. São Paulo: Paulinas, 2010.
FRANÇA, A. A cruz em Paulo: um
sentido para o sofrimento. São Paulo: Paulinas, 2010. GASDA, E. E. Cristianismo
e economia: repensar o trabalho além do capitalismo. São Paulo: Paulinas, 2014
(Ética e Sociedade).
GRENZER, M. Trajetória do apóstolo
Paulo. 4. ed. São Paulo: Paulinas, 2015.
HAWTHORNE, G.; MARTIN, R.; REID, D. Dicionário
de Paulo e suas cartas. São Paulo: Vida Nova/Paulus/Loyola, 2008. MURAD, A.;
CUNHA, C.; GOMES, P. R. Escatologia
cristã em perspectiva dialogal. São Paulo: Paulinas, 2016 (Percursos e
Moradas).
MURPHY-O’CONNOR, J. Jesus e Paulo:
vidas paralelas. 2. ed. São Paulo: Paulinas, 2009. SANCHEZ BOSCH, J. Escritos
paulinos. São Paulo: AM Edições, 2002 (Introdução ao Estudo da Bíblia, v. 7).
SERVIÇO DE ANIMAÇÃO BÍBLICA. Em
Jesus, Deus comunica-se com o povo: comunidades cristãs na diáspora. 4. ed. São
Paulo: Paulinas, 2009.
SILVA, Valmor da. Paulo, apóstolo
de Jesus Cristo pela vontade de Deus! Teologia paulina. 2. ed. São Paulo:
Paulinas, 2008.
TORRES QUEIRUGA, A. Repensar a
ressurreição: a diferença cristã na continuidade das religiões e da cultura.
São Paulo: Paulinas, 2004.
[1] Paulo
era de origem judaica e nasceu na diáspora (fora da Terra de Israel); por isso,
tinha dois nomes: Saulo, nome hebraico em homenagem ao Rei Saul; e Paulo, nome
latino.
2 As cartas
consideradas autênticas de Paulo são sete: 1 Tessalonicenses, 1 e 2 Coríntios,
Gálatas, Romanos, Filipenses e Filêmon. As outras cartas, que levam o nome
dele, provavelmente foram escritas por colaboradores do apóstolo. 3 REYNIER, C.
Para ler o Apóstolo Paulo. São Paulo: Paulus, 2012. p. 123.
4 No presente subsídio, em vez de usar a.C. e d.C.
usaremos a.E.C. (antes da Era Comum) e E.C. (Era Comum), em respeito ao diálogo
inter-religioso.
[2] 5
MAZZAROLO, Isidoro. Primeira e Segunda Carta aos Tessalonicenses: exegese e
comentário. Rio de Janeiro: Isidoro Editor, 2016. p. 11
[3] 6
MAZZAROLO, Isidoro. A Bíblia em suas mãos. 9. ed. Rio de Janeiro: Mazzarolo
Editor, 2012. p. 165.
7 Cf. HAWTHORNE, G.; MARTIN, R.; REID, D. Dicionário
de Paulo e suas cartas. São Paulo: Vida Nova/Paulus/Loyola, 2008. p. 1192.
8 Na sua evangelização, Paulo trabalha nos ambientes
urbanos, nas grandes metrópoles da época.
9 RAYNIER, C. Para ler o apóstolo Paulo. São Paulo,
Paulus, 2010. p. 124.
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