Pe. J. B. Libanio, sj
(21 de novembro de 2017)
Por Pe. J. B. Libanio, sj
As experiências passadas desempenham papel extremamente ambivalente
na vida das pessoas. Umas servem de alento, de força vital, de incentivo
para caminhar, crescer, abrir-se ao mundo. Outras paralisam, bloqueiam,
inferiorizam as pessoas. É difícil entender por onde passa o divisor de
águas. Tal constatação vale para os ex-seminaristas. Entre eles existem
desde ateus e revoltados contra a Igreja, carregando escuras manchas do
tempo de seminário, até pessoas que se comovem às lágrimas quando
pensam nos idos da vida clerical.
Esse numeroso contingente de homens, hoje espalhado pelo país e fora
dele, por profissões e atividades bem diversas, merece atenção pastoral
especial. Além das habilidades que adquiriram depois da saída do
seminário, muitos conservam excelente formação religiosa e teológica que
prestaria valiosa contribuição para a comunidade eclesial.
Não temos a mínima ideia da riqueza humana e religiosa que os
ex-seminaristas significam. Um primeiro passo para tomar pé nesse enorme
oceano humano consiste em levantar-lhes os nomes e dados mínimos sobre a
dupla experiência do tempo de seminário e depois dela.
Acrescentar-se-ia a esse primeiro levantamento uma coluna de sugestões e
de disponibilidade pastoral que oferecem.
Que tal se alguma cúria ou secretariado de pastoral criasse um site
de ex-seminaristas e aí se conversasse com a finalidade de agrupá-los,
pô-los em relação entre si e com alguém que os coordenasse? Quanta
proposta maravilhosa surgiria!
Certas pessoas dispõem de potencial incalculável que, entretanto, não
rendem frutos por falta de ocasião ou de algum empurrãozinho inicial.
Talvez nem lhes tenha ocorrido que, com a formação recebida no seminário
diocesano ou religioso, contribuiriam altamente para o enriquecimento
da vida da Igreja. A catequese, a pastoral da juventude, o ministério da
escuta, a ajuda em campos específicos – psicológicos, jurídicos,
técnicos e outros – encontrariam inúmeras pessoas disponíveis que, além
dos talentos profissionais, trazem experiências espirituais de valor.
Os seminários e a vida religiosa já viram passar por seus muros
multidões inumeráveis de jovens que guardam recordações positivas e
gratidão pelo que receberam. Falta acordar sua memória e
impulsionar-lhes o desejo de pôr em prática sonhos um dia acalentados.
Mesmo em relação aos que sofreram traumas ou saíram marcados
negativamente, há espaço para a reconciliação. Os antigos já nos
semearam a memória com ditos segundo os quais o tempo é ótimo juiz das
coisas, cura as feridas, lapida as pedras, abranda o ódio, muda a si e a
nós com ele. Apostando no futuro, faz-se possível a dupla pastoral com
os ex-seminaristas: de valorização de seu cabedal de riqueza espiritual,
intelectual e humana e de “purificação da memória”.
* Doutor em Teologia pela Universidade Gregoriana de
Roma. Há mais de três décadas vem se dedicando ao magistério e à
pesquisa teológica. Tem vários livros publicados no Brasil e no
exterior. É vigário da Paróquia Nossa Senhora de Lourdes em Vespasiano,
na Grande Belo Horizonte-MG.
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